Em Manaus, uma das cidades brasileiras mais afetadas pelo novo coronavírus, o pastor Izaías Nascimento tem levado a palavra de Deus como consolo às famílias de vítimas da pandemia.
Durante o dia, Izaías realiza serviços funerários para famílias pobres que perderam seus entes queridos. À noite, o pastor prega a mensagem de Deus na Igreja Pentecostal Alcançando Vidas.
Com quase 70 mil pessoas infectadas pela Covid-19 e quase 3 mil mortos, o estado do Amazonas é um dos mais atingidos pelo vírus. Manaus esteve à beira do colapso em maio, quando os óbitos diários aumentaram 200% e o sistema de saúde estava saturado.
O pastor Izaías, de 49 anos, diz que recebeu um chamado de Deus há quatro anos: “Vai cuidar dos meus filhos que estão precisando de um consolo, de uma palavra amiga”.
A mensagem de consolo faz parte de seu trabalho na SOS Funeral, um programa social de cerimônias fúnebres da prefeitura para famílias com poucos recursos.
O pastor Izaías Nascimento carrega o caixão de uma vítima de Covid-19 de uma casa em Manaus. (Foto: Michael Dantas/AFP)
Usando o equipamento de proteção contra o coronavírus, o pastor Izaías começa às sete da manhã uma jornada de 12 horas. Em uma van, ele retira cadáveres em hospitais e casas.
“Sinto a dor do próximo. Esse é o emprego que mais amo, Deus me colocou lá”, disse Izaías à AFP.
Durante o pico da pandemia em Manaus, Izaías lembra que não havia descanso — sua equipe chegou a realizar cerca de dez enterros por dia. Mas a situação foi amenizada e hoje são cerca de três funerais diários.
Izaías presencia diariamente o sofrimento de pessoas de perdem seus entes queridos. Os parentes “ficam desesperados, saem gritando: ‘Não leva a minha mãe! Não leva o meu pai!’. E a gente tem que aguentar. Às vezes somos agredidos, mas temos que ficar calados porque eu sei que dói”, relata.
O pastor Izaías Nascimento do lado de fora de sua casa em Manaus. (Foto: Michael Dantas/AFP)
Em uma das situações, Izaías consolou um jovem que havia enterrado o pai, vítima do novo coronavírus. Devido às normas da prefeitura, o jovem se despediu sozinho no cemitério público.
“Deus me deu esse dom da palavra, faço com amor e dedicação apesar de ser um trabalho de risco”, diz o pastor, acrescentando que não sente medo nem do coronavírus, nem da morte.
Por volta das sete da noite, Izaías se prepara para sua segunda jornada. Durante a pandemia, ele tem celebrado cultos nas casas de membros de sua igreja, já que as autoridades proibiram as reuniões para evitar aglomerações.
Na humilde casa de tijolos de uma das irmãs, o pequeno grupo levanta os braços para louvar a Deus. Quando tudo passar, o pastor pretende retomar a construção da igreja na casa que sua sogra lhe deu de presente anos atrás.
Pastor Izaías Nascimento lidera um culto doméstico em Manaus. (Foto: Michael Dantas/AFP)
Fonte: CPAD News